quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Mídia – Desinformação – o bote da coral
Todos os dias pela manhã, procuro ler os principais jornais do país na internet e hoje, me deparei com uma das manchetes de O Globo Online sobre uma emboscada armada por um ex-prefeito para o novo prefeito de uma cidade baiana, que dizia:
Antecessor deixa emboscada para prefeito eleito na Bahia: uma cobra-coral venenosa pronta para dar o bote
Alguns prefeitos baianos que acabam de assumir o mandato, geralmente substituindo um adversário político, têm encontrado, além de cofres vazios, dívidas e máquina pública sucateada, surpresas insólitas. Foi o caso de José Raimundo Laudano Santos (PMDB), prefeito de Almadina, Sul do estado. Ele achou na sala de trabalho uma cobra-coral venenosa. Estava à espreita para o bote bem embaixo da cadeira do prefeito. O bicho foi morto por alguns assessores que foram à prefeitura checar as condições do local. O caso alimentou a velha maldição do folclórico ex-governador Otávio Mangabeira segundo a qual "pense num absurdo, a Bahia tem um precedente".
Logo que li, achei que alguma coisa estava errada, pois desde menino (sempre me interessei por história natural, ecologia, etc.), depois na universidade e na minha vida profissional de quase 30 anos (sou Engenheiro Florestal), sempre soube através dos livros, de experientes professores e cientistas, como também pela minha própria e pequena experiência, que a cobra coral verdadeira não dá bote. De qualquer forma, fui procurar confirmar a informação, numa busca rápida (30 segundos no máximo) na internet, no site daquela que é uma das mais renomadas, senão a mais renomada, instituição de pesquisa sobre o assunto, o Instituto Butantã. Confirmando meus parcos conhecimentos, encontrei a seguinte informação: “As corais verdadeiras não dão bote e normalmente se abrigam debaixo de troncos de árvores, folhas ou outros locais úmidos em todas as regiões do país”.
Indo mais adiante um pouco, a coral
verdadeira somente morde (veja bem, morde. Não dá bote ou se coloca em posição de ataque como a maioria das serpentes peçonhentas) quando se sente ameaçada, e isso ocorre normalmente quando o incauto está desprotegido e coloca a mão ou pisa em alguma toca ou fenda na natureza que sirva de abrigo ao animal. De outra forma, é muito difícil imaginar-se um ataque por essa espécie. Por isso, mais uma vez, cuidado com as manchetes de jornais, porque ao invés de informarem poderão estar desinformando. Aliás, o que a gente mais vê ultimamente na ânsia de dar um “furo de reportagem” ou mesmo no desespero para vender notícias.
Agora, se o fato de um antecessor armar uma emboscada com uma cobra venenosa como a coral verdadeira para o novo prefeito se confirmar, o IBAMA os ambientalistas e estudiosos da área terão que começar a ficar preocupados, pois se a moda pega, a espécie será extinta rapidamente no país.