terça-feira, 30 de setembro de 2008

Crime - Desmatamento da Amazônia: mais uma desculpa para a incompetência


O ministro Carlos Minc apresentou ontem a lista dos 100 maiores desmatadores da Floresta Amazônica e constatou que assentamentos do o INCRA encabeçam a tal lista, do 1º ao 6º lugares. Aproveitou a oportunidade para anunciar que o desmatamento da Amazônia mais que dobrou em agosto na comparação com o mês anterior, somando 756 Km2, área maior que o território de Cingapura (que tem área total de 641 Km2), segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta segunda-feira, 29. No acumulado de 2008, a área de floresta perdida soma 5.681 Km2, de acordo com o instituto. Pelo terceiro mês consecutivo, o Pará foi indicado como o estado com maior devastação. Em agosto, o Inpe registrou 435,27 Km2 de desmatamento no estado, 57% do total. Mato Grosso aparece em segundo, com 229,17 Km2 de novos desmatamentos, seguido por Rondônia, com 29,21 Km2. O ritmo de devastação da Amazônia subiu 133% mês passado. O Inpe informou ainda que 74% da Amazônia pôde ser vista por satélite, porém o Estado do Amapá ficou praticamente todo encoberto por nuvens (99%), e em Roraima 77% do território não pode ser visto. Com isso os dados podem ser ainda piores.

O INCRA, responsável pela regularização fundiária e reforma agrária do país, tem onze de seus assentamentos destruindo uma áre
a total de 223.355 hectares de floresta. Todos esses assentamentos estão localizados em Mato Grosso, estado que faz parte da Amazônia Legal. A presidência do instituto contesta o documento e também acusa o IBAMA de permitir devastação em suas próprias áreas.

O Estado do Mato Grosso continua sendo o maior desmatador do País, com 49 dos maiores devastadores do Brasil derrubando 357 mil hectares dos 520 mil hectares derrubados em 4 anos por todos os listados. Cada um dos 100 maiores desmatadores do país são responsáveis pela devast
ação de uma área média de 1,6 mil hectares. Juntos, eles desmatam o equivalente a cerca de 160 mil campos de futebol.

Onde mais desmatam


Onde estão os desmatadores

Entre as propriedades particulares, o maior desmatador é o produtor Léo Andrade Gomes, responsável por 12,5 mil hectares de destruição de floresta nativa sem autorização dos órgãos ambientais no município paraense de Santa Maria das Barreiras. O nome do produtor também aparece na lista pela des
truição de mais 2,6 mil hectares da reserva legal de outra propriedade, em Santana do Araguaia, também no Pará.

Cada mês é uma novidade. Lembrando, no mês passado, o ministro veio à mídia "comemorando" a diminuição do desmatamento pela metade, alegando que se o desmatamento é o maior responsável pelas emissões de carbono do Brasil, o país tinha reduzido pela metade sua responsabilidade pelo aqueci
mento global, fazendo assim, muito mais que todo o resto do mundo para a melhoria do clima. Certamente, alguma coisa extraordinária aconteceu para se chegar a esses números. E, evidentemente, que não foi por ação ou competência do Ministério do Meio Ambiente ou do IBAMA! Agora, o ministro vem à mídia decepcionado, anunciando os novos números devastadores (que, consequentemente, duplicam as emissões de carbono na atmosfera), exibindo mais uma vez sua criatividade para arrumar desculpas para a incompetência do governo na gestão do patrimônio natural do país. O criativo ministro culpou o relaxamento da fiscalização dos estados e municípios por ser época de eleição! Segundo ele, nenhum prefeito ou governador quer ser antipático e acaba relaxando na fiscalização ao desmatamento (eles fazem de tudo pelos votos dos desmatadores). Ainda segundo o ministro, o IBAMA atua, mas tem que ter a polícia para dar cobertura, porque os desmatadores estão com o dedo no gatilho e existem estatísticas que mostram historicamente que o desmatamento aumenta nos meses anteriores às eleições municipais. É impressionante!

Chega de arrumar desculpas para a incompetência. Chega de discursos inúteis, vazios. Chega de cinismo, de marketing político. O problema é um só: falta de FISCALIZAÇÃO. Não se trabalha na área de meio ambiente se não existe fiscalização constante e eficiente e medidas eficazes contra a impunidade. Na situação em que se encontram os ecossistemas brasileiros, a atitude mais importante no momento é fiscalizar. Educação ambiental, alternativas de geração de renda, agroecologia são muito importantes, mas vêm numa segunda etapa, caminhando sempre junto de fiscalização persistente e eficiente. O ministro e demais autoridades, principalmente o presidente, têm que parar de ficar fazendo discursos todo o santo dia e agir, investindo na estruturação dos órgãos de gestão ambiental. Falta tudo: equipamentos, pessoal, salários dignos, plano de carreira, infra-estrutura. Dêem condições para uma fiscalização eficiente que, certamente, os índices de desmatamento e demais agressões ambientais diminuirão. Não precisa ser altamente especializado para se chegar a essa conclusão. Parem de conversa fiada e de novas desculpas a cada mês para justificar ou “comemorar”. Vocês não enganam mais ninguém!