sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Crime - Trabalho escravo em área da Petrobras


Auditores do Ministério do Trabalho e Policiais Federais encontraram 40 pessoas em condições de trabalho escravo em uma área que pertence à Petrobras, no interior do Paraná. Foi caracterizada situação de trabalho escravo pela condição degradante dos alojamentos, segundo os agentes. A empresa, que foi notificada, havia feito um acordo com antigos proprietários para que eles desmatassem o terreno de 44 hectares. A área será utilizada para exploração de xisto.

As pessoas contratadas para a empreitada estavam trabalhando em condições precárias: não usavam botas, luvas nem tinham carteira assinada. Entre os trabalhadores havia, inclusive, um jovem de 16 anos com as mãos calejadas. Depois da jornada, os funcionários eram alojados em barracos de lona, carroças e casebres abandonados. Uma mulher dividia com o marido o espaço em um antigo galinheiro.

Funcionários da Petrobras estiveram no local, mas não quiseram se pronunciar (nessas horas é normal silenciarem-se). A Petrobras informou em nota que repudia o trabalho escravo. A empresa diz que a aquisição dos terrenos onde vai ser implantada a mina de xisto teve início em 2003, mas a companhia só vai assumir a posse definitiva da área no ano que vem. A companhia afirma ainda que, embora não tenha responsabilidade sobre a condição dos trabalhadores, vai colaborar com as autoridades para combater a exploração da mão-de-obra.

O tempo é senhor do universo. O tempo faz as máscaras caírem e a realidade nua e crua, como o petróleo bruto que brota do chão, aparece desvendando o âmago do ser. O fato lembra aquela historinha fiada: fumei, mas não traguei. A Petrobras adquiriu a área, mas não tem responsabilidade pelo que ocorre em seus limites? Isso só demonstra que o petróleo não é nosso. O petróleo só serve para os diretores e funcionários da Petrobrás. Os terceirizados e o povo que se lixem. Como se a contratante não tivesse nenhuma responsabilidade por pessoal terceirizado, se acham no direito de contrariar a lei trabalhista na maior cara de pau.


O fato também ajuda a comprovar o processo de maquiagem ambiental e social que vem ocorrendo na maioria das empresas no país. Investem enormes somas
em propaganda de suas ações sócio-ambientais, ações essas que consomem um ínfimo percentual dos absurdos lucros semestrais anunciados desavergonhadamente na mídia. A Petrobras se gaba de ser a maior patrocinadora de projetos sociais, culturais e ecológicos, o que na realidade é muito fácil, pois os investimentos nesse tipo de ação por parte das outras empresas são irrisórios, bem menores dos que feitos pela Petrobras. A grande maioria costuma patrocinar meia dúzia de projetos, divulgando-os em suas campanhas institucionais como se fossem a coisa mais importante do universo. O marketing faz uma lebre virar um leão. E aí elas se tornam empresas ecológicas, socialmente responsáveis. Vejam os bancos por exemplo. Até pouco tempo atrás não davam ouvidos para meio ambiente. O negócio era ganhar dinheiro a qualquer custo. Agora, em curtíssimo prazo, são todos ecológicos e socialmente responsáveis. É impressionante a rapidez do processo de ecologização dessas instituições! É de se desconfiar em caso de propaganda enganosa, fato que deveria ser apurado minuciosamente pelo Ministério Público e órgãos de defesa do consumidor.

Voltando aos escravos da Petrobras, esses investimentos sócio-ambientais são irrisórios perto do risco que suas atividades representam, dos danos que podem causar e já causaram e principalmente dos lucros absurdos que alferem como mencionado anteriormente. Não pense você que ela faz esse tipo de investimento por vontade própria, por ser uma empresa “boazinha”. Esses investimentos devem ser vistos como compensações a esses riscos e danos. Ela os faz por mera exigência, ou por órgãos ambientais licenciadores, ou pelo poder da opinião pública, da mídia. Puro marketing.

É uma vergonha para o país e para a humanidade, uma empresa desse porte só tomar conhecimento e repudiar o trabalho escravo depois que o problema surge na mídia. Se não tivesse sido exposto, o problema continuaria a ser ignorado ou camuflado e tudo bem. Seria mais um ato escondido no meio de tantos que devem ocorrer corriqueiramente nessa empresa e em tantas outras pelo Brasil a fora. Tenho certeza, que com os diretores e funcionários da Petrobras isso não ocorreria de forma alguma. Afinal de contas, o petróleo é deles. Mas o tempo continuará a desvendar as mazelas da falsa ecologização empresarial brasileira. É só aguardar.