

O Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Uerj (MAQUA) também encontrou nos botos de Sepetiba concentrações de resíduos industriais que prejudicam o sistema imunológico, hormonal, diminuem a capacidade de reprodução e causam anomalias ósseas. Os técnicos estimam que existam na Baía de Sepetiba entre 700 e 2000 botos-cinza, que já sentem a poluição ambiental e sonora. Os animais sofrem com doenças de pele, que têm ligação direta com baixa imunidade, ferem-se na colisão com hélices e cascos de embarcações e com redes de pesca ou morrem por sufocamento quando presos às redes, pois periodicamente precisam emergir para respirar. Por ano, são 20 golfinhos mortos pelas redes e 10% dos botos fotografados pelo Projeto Boto-Cinza apresentam ferimentos.

Os técnicos ainda temem pela ação dos grandes barcos, que vêm do sul do país e praticam a pesca predatória de manjuba e sardinha, problema antigo que se perpetua por falta de fiscalização dos órgãos ambientais. A oferta destes peixes pode ficar escassa e o boto sentirá com isso, já que esses peixes fazem parte de sua dieta. O boto é a sentinela da vida na baía. Se ele sente, todos sentem.

A verdade é que a Baía de Sepetiba não é comparável com a Baía de Guanabara, simplesmente porque a segunda ganha muito mais espaço na mídia devido sua localização e importância econômica e populacional (a capital e a maior parte da região metropolitana do Rio de Janeiro se encontra em suas margens). Simplesmente, a Baía de Sepetiba dá menos “ibope” (a população da orla é menor se comparada com a Baía de Guanabara e as cidades que a rodeiam). Sepetiba é frequentemente esquecida. Enfim, o que acontece é que a Baía de Sepetiba é tão agredida hoje quanto a Baía de Guanabara. É um dos ecossistemas do estado em nível crítico de sobrevivência. Além dos mega-projetos, Sepetiba é agredida pelo despejo de grande parte do esgoto sem tratamento produzido pelas indústrias, residências da Baixada Fluminense e pelos núcleos urbanos de sua orla, pela ocupação desordenada, destruição de manguezais, aterros e dragagens irregulares, pesca predatória, tráfego crescente de navios de grande porte, poluição atmosférica, chuva ácida, metais pesados, dentre outros absurdos. O desleixo do Poder Público, em todas as esferas, é evidente e histórico no caso de Sepetiba.
Não é somente o boto que está morrendo e os peixes estão acabando. A baía está agonizando. A baía está em fase terminal. O homem também não resistirá.