sábado, 9 de agosto de 2008

Meio ambiente – Baía de Sepetiba em alerta


A Baía de Sepetiba foi matéria de O Globo mais uma vez essa semana. A matéria destacava o estado de alerta em que se encontram os ambientalistas da região, em relação ao excesso de empreendimentos na orla da baía, que já possui dois terminais de carga funcionando (Porto de Itaguaí e MBR). Ano que vem entrará em operação mais um terminal e a FEEMA já tomou conhecimento de mais três portos, que ainda não tiveram os pedidos de licença ambiental enviados. Segundo informações, a FEEMA já negou a licença para duas empresas interessadas na instalação de portos na Baía de Sepetiba, a Brazore e a BHP Billiton, ambas mega mineradoras internacionais.

Técnicos do Projeto Boto-cinza, patrocinado pela Vale, que também terá pelos menos dois terminais na baía (possui participação na CSA - entrará em operação brevemente; controla a MBR - operando há décadas na Ilha de Guaíba), afirma que Sepetiba já está no limite de receber novos empreendimentos. Segundo eles, daqui para frente deveria ser barrado qualquer porto ou atividade, pois este excesso pode desencadear uma degradação em cadeia e Sepetiba virar uma Baía de Guanabara.

O Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores
da Uerj (MAQUA) também encontrou nos botos de Sepetiba concentrações de resíduos industriais que prejudicam o sistema imunológico, hormonal, diminuem a capacidade de reprodução e causam anomalias ósseas. Os técnicos estimam que existam na Baía de Sepetiba entre 700 e 2000 botos-cinza, que já sentem a poluição ambiental e sonora. Os animais sofrem com doenças de pele, que têm ligação direta com baixa imunidade, ferem-se na colisão com hélices e cascos de embarcações e com redes de pesca ou morrem por sufocamento quando presos às redes, pois periodicamente precisam emergir para respirar. Por ano, são 20 golfinhos mortos pelas redes e 10% dos botos fotografados pelo Projeto Boto-Cinza apresentam ferimentos.


Botos mortos na Baía de Sepetiba

Os técnicos ainda temem pela ação dos grandes barcos, qu
e vêm do sul do país e praticam a pesca predatória de manjuba e sardinha, problema antigo que se perpetua por falta de fiscalização dos órgãos ambientais. A oferta destes peixes pode ficar escassa e o boto sentirá com isso, já que esses peixes fazem parte de sua dieta. O boto é a sentinela da vida na baía. Se ele sente, todos sentem.

Outro antigo problema que enfrenta a baía diz respeito à água de lastro dos navios. Se não houver fiscalização adequada dos navios que aportarem em Sepetiba (e não há), espécies exóticas podem ser trazidas na água do lastro de navios estrangeiros e acabar com a fauna e flora locais.

A verdade é que a Baía de Sepetiba não é comparável com a Baía de Guanabara, simplesmente porque a segunda ganha muito mais espaço na mídia devido sua localização e importância econômica e populacional (a capital e a maior parte da região metropolitana do Rio de Janeiro se encontra em suas margens). Simplesmente, a Baía de Sepetib
a dá menos “ibope” (a população da orla é menor se comparada com a Baía de Guanabara e as cidades que a rodeiam). Sepetiba é frequentemente esquecida. Enfim, o que acontece é que a Baía de Sepetiba é tão agredida hoje quanto a Baía de Guanabara. É um dos ecossistemas do estado em nível crítico de sobrevivência. Além dos mega-projetos, Sepetiba é agredida pelo despejo de grande parte do esgoto sem tratamento produzido pelas indústrias, residências da Baixada Fluminense e pelos núcleos urbanos de sua orla, pela ocupação desordenada, destruição de manguezais, aterros e dragagens irregulares, pesca predatória, tráfego crescente de navios de grande porte, poluição atmosférica, chuva ácida, metais pesados, dentre outros absurdos. O desleixo do Poder Público, em todas as esferas, é evidente e histórico no caso de Sepetiba.

Não é somente o boto que está morrendo e os peixes estão acabando. A baía está agonizando. A baía está em fase terminal. O homem também não resistirá.