A usina nuclear Angra 3 continua a receber críticas. Agora foi a vez do físico e professor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg que reforçou na terça-feira (15) as críticas mais recentes da comunidade científica à construção da usina, durante sua participação na 60a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
A retomada da construção da usina, prevista para setembro, foi anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, no último dia 7 e Goldemberg afirmou que a retomada do programa nuclear “não faz sentido” diante das alternativas possíveis para suprir a demanda energética do país, como a utilização do potencial eólico e o fomento à produção de eletricidade a partir da cana-de-açúcar.
Segundo ele, na grande maioria dos países que adotaram a energia nuclear, esta foi uma solução de desespero, como última solução. É uma espécie de sinfonia inacabada, e, no fim, todo mundo já está cansado de Angra 3 que o melhor é acabar mesmo.
O professor da USP criticou ainda o custo da opção pela usina. Segundo ele, o megawatt-hora de Angra 3 deverá custar R$ 170, quase 2,5 vezes mais que o valor licitado recentemente para a Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), de cerca de R$ 70 o megawatt-hora.
Goldemberg está certo. Num país tão rico em recursos naturais como o Brasil, possibilitando a utilização de inúmeras formas limpas de geração de energia, é inadmissível continuar pensando em termonucleares. Angra dos Reis, a Costa Verde Fluminense e o país ganhariam muito mais se tivessem optado pelo desenvolvimento do ecoturismo, vocação natural da região, ao invés de projetos megalômanos como uma usina atômica, dentre outros absurdos existentes na região. Quem paga é a população que vive hoje acuada e com medo de um acidente nuclear, além de financiar a barbárie. Problemas nunca faltaram: plano de escoamento totalmente falho e fora da realidade local, depósito de lixo atômico sem qualquer previsão de destino adequado, problemas estruturais e operacionais das usinas, rodovias em péssimo estado de conservação, estruturas urbanas regionais sem qualquer condição para assistir a população em situações normais imaginem num momento de urgência, poluição visual, dentre outros. Uma verdadeira agressão a um paraíso natural que congrega uma das maiores biodiversidades do planeta (ecossistemas marinhos integrados ao ecossistema Mata Atlântica). Uma região única há muito esquecida do Poder Público, a não ser para espoliá-la com a ajuda da iniciativa privada.
Tanto interesse em continuar o projeto, certamente se explica pelo movimento de recursos a serem empregados. No país da corrupção, muita gente vai continuar lucrando com esse impropério.