domingo, 29 de março de 2009

Biodiversidade - Estudo inédito sobre borboletas revela as riquezas da Estação Ecológica de Iquê


Um estudo realizado entre janeiro e julho do ano passado na Estação Ecológica de Iquê, em Mato Grosso, diagnosticou que a unidade é abundante em riqueza natural. O estudo integra a dissertação de mestrado da bióloga e analista ambiental do Ibama, Cibele Madalena Ribeiro Xavier, que será apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

A conclusão é resultado de de um levantamento inédito sobre borboletas realizado na Esec, intitulado “Comunidade de borboletas frugívoras da Estação Ecológica de Iquê, Juína-MT”, destacando que, apesar de bem preservada, cuidados com a unidade são imprescindíveis para a conservação da biodiversidade e para a manutenção do ecossistema da região, uma área de mais de 200 mil hectares de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica. Segundo a pesquisa, para manter a integridade ecológica do local é fundamental a elaboração e a implantação de políticas públicas a fim de que se atinja tanto uma gestão eficiente como os objetivos previstos no ato de criação da unidade. A pesquisadora pretende transformar o estudo científico em subsídio para elaboração do plano de manejo e para a construção da gestão ambiental da unidade.

Catonephele acontius

As borboletas, agentes importantes para a avaliação do grau de conservação de um ecossistema, revelaram que a unidade está ecologicamente equilibrada. Embora sejam animais resistentes a locais inóspitos, as borboletas são indicadoras de regiões em bom estado de preservação porque respondem rapidamente às alterações ambientais. Sendo assim, pode-se concluir que onde há borboletas em abundância, a natureza está praticamente intacta. Durante os seis meses de pesquisa, constatou-se uma elevada quantidade de diversidade de espécies e de indivíduos nas populações de ninfalídeos (família de insetos lepidópteros que reúne todas as borboletas diurnas ou crepusculares com as pernas anteriores muito reduzidas), bem como a permanência desses insetos por amplo período durante o ano. Nesse cenário ambientalmente estável da Esec, observou-se o comportamento desses insetos e coletou-se borboletas em vários pontos da unidade. Alguns espécimes foram sacrificados para fazer parte da coleção entomológica da Faculdade de Engenharia Florestal da UFMT.

As borboletas encontradas são típicas da região neotropical e distribuem-se desde o México até a Argentina. O número de espécies do grupo na região varia de 7.100 a 7.900 e, no Brasil, esse número varia de 3.100 a 3.280 espécies descritas. A bióloga comemora os resultados porque várias espécies das mais abundantes na Esec (38 espécies) são consideradas raras, difíceis de encontrar em qualquer época e lugar por manterem populações pequenas, sazonais e erráticas. Entre as espécies mais abundantes, a Catonephele acontius foi a que mais se destacou. Com uma mistura de banana amassada, fermentada em caldo de cana, a pesquisadora atraiu 605 borboletas frugívoras (que se alimentam de frutos) no dossel (cobertura contínua formada pelas copas das árvores) e no sub-bosque (região em que predomina vegetação típica de cerrado) da unidade.

Achaeoprepona demophon

Apesar de a coleta realizada durante o período seco e chuvoso ter revelado a existência de 54 espécies distintas, o período de transição entre a estação chuvosa e a seca foi o mais representativo por ter sido o que apresentou o maior número de captura e de recaptura das borboletas. Por ser o primeiro estudo sobre borboletas realizado na estação, a tendência é que a unidade seja procurada por outros pesquisadores para realização de estudos mais aprofundados sobre o tema.

A pesquisa sobre as borboletas atraiu cientistas para a Esec e, com isso, inaugurou um novo momento na unidade, pois a área foi abandonada pelos cientistas por mais de uma década em virtude da falta de estradas e das más condições de acesso ao local. A última pesquisa realizada na estação ecológica ocorreu em 1996 e até o ano passado ficou esquecida pela comunidade científica. Assim, quatro pesquisas foram iniciadas na unidade no ano passado, relacionadas com espécies da fauna (araras e anfíbios) e da flora regionais.