sábado, 21 de março de 2009

Meio ambiente – Donos de terras decidem sobre desmatamento no Congresso


Os integrantes das comissões de Agricultura da Câmara e do Senado, que analisam mudanças nos limites de desmatamento no país, detêm, juntos, o equivalente a pelo menos 40% do território da cidade de São Paulo em terras, considerando-se apenas as propriedades que tiveram o tamanho detalhado nas declarações apresentadas pelos deputados e senadores: 604 km2.

O rebanho do grupo reúne 37 mil cabeças. "A maioria aqui é proprietária de terras", calcula a senadora Kátia Abreu (
DEM-TO), presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e integrante da comissão.

No Senado, 8 dos 17 titulares se declaram donos de terras. Na Câmara, a proporção cresce: 21 dos 36 deputados titulares da comissão se apresentam como produtores rurais e apenas 5 como agricultores.

Os ruralistas controlam entre 80% e 85% das vagas nas comissões de Agricultura e metade das vagas nas comissões de Meio Ambiente. Atualmente, o Diap identifica 111 parlamentares como componentes da bancada ruralista. Integra a bancada ruralista aquele parlamentar que, mesmo não sendo proprietário rural ou da área de agronegócios, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e nas manifestações de plenário.

A bancada ruralista apóia a conhecida “turma do calote”, grandes fazendeiros, milionários do campo habituados a tomar dinheiro barato do crédito rural do Banco do Brasil e a não pagar o que devem. Estes impressionam pelas dimensões de suas fazendas, seu confortável estilo de vida e, principalmente, pelo tamanho dos débitos pendurados no banco. Para se safar das dívidas, eles contam muitas vezes com o enorme poder de pressão
exercido por sua bancada de deputados e senadores em Brasília. A bancada ruralista, como se sabe, é a mais organizada, poderosa e reclamona do Congresso Nacional. Atormenta a vida de sucessivos governos, boicotando votações e emperrando a pauta para conseguir dinheiro para o campo, empréstimos a juros baratos ou mesmo perdão das dívidas. Age como muitos outros grupos organizados no Parlamento, tentando defender os interesses de seus eleitores no campo. Sua atuação é importante para milhões de pequenos e médios agricultores, mas também serve como uma luva para os membros da turma do calote, este sim imbatível na hora de obter vantagens dos cofres do governo.

Ao exaltarem-se contra as dívidas no campo, os parlamentares e líderes ruralistas nem sempre estão defendendo seus milhões de eleitores produtores rurais, mas sim um punhadinho de grandes proprietários. Eles ajudaram a criar a indústria da inadimplência no Brasil. A maior parte de
ssa dívida está concentrada na mão de “meia dúzia” de grandes proprietários.

Quem acompanha a barulheira dos ruralistas em Brasília imagina que o governo os esteja espoliando através de juros extorsivos ou que a agricultura nacional está ameaçada. Isso nem sempre é verdade. Os empréstimos do crédito rural são uma das formas de financiamento mais baratas do país. Os ruralistas pagam juros menores que os cobrados na compra da casa própria, menos que no cheque especial ou nas compras pelo crediário.

A atuação do Congresso, com anistia aqui, perdão ali e prorrogações de prazo das dívidas dos ruralistas, afastou os bancos privados do crédito rural e desenvolveu a mentalidade de que se a dívida for grande, e com muitos inadimplentes, vai acontecer alguma coisa com a qual eles se beneficiarão. A mamata do dinheiro barato do crédito rural continua sendo uma mina de ouro para a turma do calote.

Entre os ruralistas, há aqueles que usaram o dinheiro do BB para engordar o patrimônio. Outros investiram na produção, mas deram o passo maior que a perna e quebraram. Um traço em comum entre os inadimplentes é que eles esperneiam contra o governo, mas, em geral, mantêm uma relação promíscua com o poder. Financiam campanhas eleitorais, contam com uma bancada fiel no Congresso e são amigos de muita gente graúda do Executivo, independentemente de partido.

Com todo esse poder é de imaginar o que essa turma vai fazer em relação ao desmatamento!