
Os cientistas dizem ter encontrado uma "assinatura" genética de resistência à doença fatal. Eles querem que os engenheiros florestais usem o mapeamento de genes para identificar os diabos da Tasmânia que possuem a assinatura de resistência e os acasalar durante a estação de acasalamento deste ano, que iniciou agora e terminará em julho. Para Vanessa Hayes, do Instituto do Câncer Infantil da Austrália, em Sydney, seria ótimo se os dados gerados na pesquisa fossem usados no ciclo de acasalamento deste ano. Mas cientistas da Associação Regional de Parques Zoológicos e Aquários da Austrália (ARAZPA), que gerencia o programa de reprodução em cativeiro dos diabos da Tasmânia, dizem que pode ser cedo demais para usar o mapeamento genético. Segundo Paul Andrew, da ARAZPA, ainda não está totalmente claro que exista uma forma prática de usar a informação.
O projeto genoma dos diabos da Tasmânia teve início a 15 meses atrás, por Hayes, juntamente com Stephan Schuster e Webb Miller, da Universidade Estadual da Pensilvânia. Schuster já seqüenciou antes o genoma de animais extintos, como o mamute lanoso, usando uma entre diversas tecnologias que permitem aos cientistas estudar as seqüências genômicas em velocidades cada vez mais rápidas e a custos mais baixos. Porém, essas tecnologias ainda não tiveram muito efeito na conservação da fauna selvagem, porque ficaram focadas na medicina, agricultura e ciência básica.

Apesar disso, alguns animais conseguem lutar contra o câncer, e a Fundação Gordon e Betty Moore, de Palo Alto, Califórnia, disponibilizou aos cientistas US$ 1 milhão para tentar entender a razão disso, seqüenciando os genomas de dois espécimes: Cedric (foto abaixo), que resistiu ao câncer até ser propositalmente infectado com uma linhagem específica, é o primeiro diabo da Tasmânia a mostrar qualquer imunidade à doença, e Spirit, que morreu da doença.

Agora, eles esperam que a ARAZPA permita o mapeamento de gene nos 170 diabos da Tasmânia em cativeiro, pois afirmam que os mapeamentos poderiam ajudar a associação a decidir quais animais são mais propensos a resistir ao tumor facial e, portanto, são os melhores para se reproduzir. A equipe já mapeou os genomas de diabos da Tasmânia em um dos parques do programa de reprodução em cativeiro, o Australian Reptile Park, em New South Wales, onde identificaram três machos com perfil genético, ou genótipo, muito compatível com o de Cedric. Assim, sugerem a tentativa de acasalar esses animais com o máximo de fêmeas possível.

Para os defensores, o projeto continua a acrescentar mais informação sobre os genomas de Cedric e Spirit, e essa informação certamente descobrirá os genes mais importantes, pois segundo eles, não há como não encontrarem os genes importantes, já que todos os genes serão sequenciados. A equipe de Hayes já argumenta que seus dados podem oferecer informação crucial, que poderá ajudar a salvar uma espécie ameaçada de extinção se for incorporada ao atual programa de reprodução dos diabos da Tasmânia.

diabo da Tasmânia juntamente com o
pesquisador Stephan Schuster,
da Universidade Estadual da Pensilvânia
O diabo da Tasmânia é o maior marsupial carnívoro do planeta, depois que o tigre-da-tasmânia foi extinto em meados do século 20, pelos seres humanos. A espécie foi extinta do continente australiano. Por isso, para ver um desses marsupiais, em estado selvagem é preciso ir até a Tasmânia, o único lugar onde ele ainda sobrevive. A Tasmânia é um estado da Austrália, localizado em uma grande ilha ao sul de Melbourne. Por alguma razão, esse não é o lugar preferido dos australianos que residem no continente. Por isso, a proporção de pessoas que vão à Tasmânia e têm contato com o bichinho é pequena.
A espécie foi descrita pela primeira vez em 1807 pelo naturalista George Harris, que a classificou no gênero Didelphis. Richard Owen reviu a classificação em 1838, incluindo o diabo no gênero Dasyurus. Finalmente em 1841 foi-lhe atribuído um gênero próprio, Sarcophilus.
Acredita-se que, no continente australiano, o diabo da Tasmânia tenha sido extinto pelo dingo (Canis lupus dingo), subespécie do lobo, foi introduzida na região continental da atual Austrália por navegadores austronésios, há cerca de 3 mil anos, bem antes da colonização européia.

As fêmeas atingem a maturidade sexual aos dois anos. A época de reprodução realiza-se anualmente em março e resulta em ninhadas de 2 ou 3 crias que nascem em abril, ao fim de 21 dias de gestação. Como na maior parte dos marsupiais, o resto do desenvolvimento dos juvenis faz-se no interior do marsúpio (a bolsa), neste caso, durante os quatro meses seguintes. As crias saem pela primeira vez em agosto-setembro e tornam-se independentes em dezembro.
Com a extinção do tigre da Tasmânia, o diabo tornou-se o predador de topo da cadeia alimentar no seu ecossistema, mas os juvenis podem ser caçados por águias, corujas e quolls. Contam sobretudo com a visão, o olfato e os bigodes para localizar o alimento. O diabo da Tasmânia alimenta-se de pequenas aves, répteis, mamíferos, anfíbios, insetos e até mesmo frutas, entretanto, prefere carniça de animais maiores, como o canguru, e nada desperdiçam, engolindo até pele e pedaços de ossos. Estes animais têm um impacto positivo no seu habitat no controle de espécies introduzidas de lagomorfos e roedores e na remoção de carcaças em decomposição.
No passado foi caçado e envenenado pelos pelos colonizadores pela sua carne, que os colonos diziam ter sabor a vitela, e porque achavam erroneamente que esses animais causavam estragos ao rebanho. A verdade é que existem raras ocorrências de ataques a filhotes de ovelhas e animais de rebanho. Os registros mostram que apenas os bichos doentes são presas ocasionais do diabo da Tasmânia. Ele ajuda a manter a saúde do rebanho, pois alimenta-se das carcaças dos animais que morrem e, ainda, tira, de forma inofensiva para as ovelhas vivas, as larvas de parasitas que se instalam em suas costas. Apresentam longevidade aproximada de 8 anos.

A espécie foi protegida em 1941 e a partir daí a população recuperou-se. Agora lutam para sobreviver à maldita doença que poderá causar sua extinção.