sexta-feira, 13 de março de 2009

Ciência - Pesquisadores tentam salvar o mais ameaçado dos micos-leões


Os holofotes do público e dos conservacionistas estão quase sempre voltados para o mico-leão-dourado, mas quem mais precisa de atenção talvez seja um primo menos famoso, mas tão belo quanto ele, o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara). Com apenas 400 exemplares remanescentes em São Paulo e no Paraná, o pequeno primata é o mais ameaçado dos micos-leões, e um dos macacos brasileiros mais próximos da extinção. Para tentar salvar o bicho desse destino, pesquisadores estão tentando entender por que ele parece ser tão exigente em relação ao seu habitat e determinar se a espécie sempre teve uma população restrita.

Ao lado do mico-leão-preto, que é relativamente mais comum e ocupa uma categoria menos ameaçada, o mico-leão-da-cara-preta é o único de seu grupo a habitar a Mata Atlântica paulista e, ao contrário dos outros micos-leões, ele sofre bem menos com a redução de habitat, porque as florestas onde está e
quivalem a grandes extensões de mata relativamente bem-preservada.

A equipe da ONG ambientalista IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) vem estudando a espécie desde meados dos anos 1990, pouco depois de ele ter sido descoberto (apesar de viver num estado tão populoso quanto São Paulo, ante
s disso o animal era desconhecido da ciência). Desde que a equipe começou a acompanhar a espécie, a distribuição dela continua restrita, inalterada. A área que ela ocupa continua a ser basicamente a mesma.

Cada família da espécie, formada por um casal e seus filhotes, habita cerca de 300 ha numa pequena região da Mata Atlântica do extremo sul de São Paulo e o extremo norte do Paraná. Na natureza, os primatas comem principalmente invertebrados, pequenos anfíbios e frutas. Os bichos se dividem entre a floresta do litoral continental e a que existe na ilha de Superagui. A situação é única entre os micos-leões, porque só a espécie paulista-paranaense conta com grandes pedaços de mata.

A grande questão é saber se a espécie é realmente mais exigente que seus parentes, precisando de mais espaço vital. Sabe-se que ela prefere a faixa mais litorânea de mata, inclusive algumas áreas de brejo, que apresentam transição com restinga (vegetação costeira). Nas áreas em que
seu habitat começa a ter mais elevações, observa-se que ela utiliza muito pouco os trechos mais altos de mata, mesmo quando o terreno elevado responde pela maior parte de habitat disponível. Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que a planície litorânea do sul de São Paulo e norte do Paraná é estreita demais, enquanto nos outros locais habitados por micos-leões, como o Rio de Janeiro e a Bahia, ela se estende bem mais para o interior. Como a transição é mais abrupta no território do mico-leão sulista, pode ser que ele não tenha conseguido acompanhar o ritmo da mudança e tenha ficado "espremido" nas áreas baixas do litoral.

Outra dúvida que os pesquisadores esperam responder com a ajuda de dados genéticos é se a espécie sempre viveu na área relativamente minúscula onde se encontra hoje. De qualquer maneira, mesmo que a área ocupada pelos animais originalmente tenha sido bem maior, há espaço para a população crescer. Na situação atual da floresta, daria para o número de indivíduos quase triplicar sem problemas de falta de habitat.

O esforço dos especialistas do IPÊ já conseguiu tirar o bicho da lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo, mas algumas ameaças sérias continuam. As principais são a extração de palmito e de caxeta (uma madeira de leve, muito apreciada para artesanato), que colocam em risco a Mata Atlântica da região.