Nesta quarta-feira, 450 agentes federais participaram da ação da Polícia Federal que prendeu 72 pessoas suspeitas de participar de uma quadrilha internacional de tráfico de animais no Rio de Janeiro e em mais oito estados. Somente no Rio, foram 42 presos. Ao todo, foram expedidos 102 mandados de prisão e 140 mandados de busca e apreensão nos estados do Pará, Maranhão, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, 59 deles no Rio. Há procurados também em Portugal, Suíça e Republica Tcheca.
As investigações tiveram início em janeiro do ano passado. A quadrilha traficava animais silvestres para o exterior e para comércio nas feiras de Caxias, Honório Gurgel e Areia Branca, no Estado do Rio, chegando a negociar 500 mil animais por ano. O suspeito de ser o principal articulador do comércio internacional, o tcheco Tomas Novotny, que se apresentava como empresário, foi preso no condomínio America’s Park, na Barra da Tijuca. Numa escuta telefônica, ele e um amigo, também estrangeiro, debocham do lema '"Ordem e progresso" e falam que o Brasil é pior do que um país de terceiro mundo. Com o apoio de vários grupos criminosos, os animais capturados no Maranhão seguiam por via terrestre até a Bahia e depois de avião para Portugal e República Tcheca. O pagamento era recebido pela namorada de Tomas em Belo Horizonte.
Em Duque de Caxias, Ana Rita de Oliveira, de 68 anos, também foi presa. Dona Ana, como é chamada pelos comparsas, seria chefe de um dos grupos que atuava na venda de animais na feira de Caxias, um dos principais pontos de venda de animais silvestres no país. Eram negociadas diversas espécies de aves, além de jibóias, onças-pintadas, veados-mateiros e macacos-prego. Grande parte dos animais vendidos vem do Parque Nacional da Bocaina, em Paraty, onde atuam duas grandes quadrilhas de caçadores. Eles vendem a diversos grupos de comerciantes intermediários, que revendem os animais tanto para consumidores finais quanto para outros comerciantes que atuam em feiras. A feira de Caxias recebe ainda animais do Pará, Bahia, Uberlândia, Paraná e São Paulo, onde também atuam quadrilhas de caçadores e intermediários. Pelo menos quatro policiais militares participavam da venda de animais, sendo que alguns tiveram a prisão preventiva decretada. Também havia a participação de funcionários de empresas de ônibus, que auxiliam os intermediários no transporte clandestino, intermunicipal ou interestadual, nos compartimentos de cargas.
O grupo de caçadores da Reserva do Tinguá, que inicialmente supunha-se ser a origem dos animais, atua principalmente na caça esportiva e no fornecimento de carnes exóticas para restaurantes locais. Grande parte dos réus tem antecedentes em crimes ambientais, atuando na caça ilegal e tráfico de animais silvestres há muito tempo. Alguns foram presos em flagrante durante a investigação e mesmo assim continuaram a praticar crimes depois de soltos. Quase todos os investigados negociavam animais em extinção.
Os detidos devem responder por caça ilegal com a agravante de que os animais estão em extinção e provinham de unidades de conservação. Outros crimes imputados são maus-tratos aos animais, receptação e formação de quadrilha. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, onde serão ouvidos.