domingo, 22 de março de 2009
Água - Único rio limpo de São Paulo ameaçado pelo lançamento de esgoto
O distrito de Marsilac, extremo sul do município de São Paulo, com 15 mil moradores, apresenta o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital e nível de mortalidade infantil superior à média do Nordeste.
Como a maioria da população utiliza valas negras para despejar o esgoto, há risco de contaminação por doenças graves, como hepatite, cólera e tifo. A falta de saneamento coloca em risco vidas e também o único rio livre de poluição que corta São Paulo, o Rio Capivari.
A região é de extrema importância ambiental, pois além de abrigar o único rio sem poluição que corta Marsilac, abriga vários cursos d’água intactos que nascem na Serra do Mar e abastecem o Sistema Guarapiranga, que fornece cerca de 30% da água consumida em São Paulo.
O drama da população de Marsilac é exemplar para se entender o que acontece com o saneamento básico no Brasil. O Índice de Desempenho Ambiental, levantamento feito pelas Universidades de Yale e Columbia que mede a performance ambiental de 132 países, listou o Brasil em 34º no ranking, com 82,7 pontos de média. Não muito atrás de países como Dinamarca (84) e Espanha (83,1). Mas no quesito Adequação Sanitária o país faz feio. No levantamento de 2008 teve nota 70,8. Na comparação das Américas, ficou atrás de países como Guatemala, Paraguai, Jamaica e República Dominicana. Mesmo São Paulo, que tem IDH de país europeu, tem seu lado africano.
Hoje, 97% dos municípios brasileiros dispõem de água tratada em 70% das residências ou mais, só que apenas um terço do esgoto é recolhido, e apenas 30% desse esgoto coletado é tratado. Esse é o maior fator de poluição de águas no Brasil.
Nesse cenário, não é apenas o morador pobre, da zona rural ou de comunidades irregulares que sai prejudicado. O número de pessoas morando em cidades no Brasil corresponde a 82,7% da população. Desse total, 56% é atendido pela rede coletora de esgoto. O resto é obrigado a despejar esgoto in natura em córregos, rios ou praias. É o caso dos condomínios da Barra da Tijuca ou do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro por exemplo. Os imóveis desses bairros, que ostentam construções de alto padrão, não dispõem de rede coletora. O esgoto produzido por eles é jogado na praia ou em fossas sépticas, cujo transbordamento por falta de manutenção traz sérios danos ao ambiente.
Há duas décadas a política no país era afastar o esgoto. Jogava-se no mar, rio abaixo. Hoje, com as cidades crescendo e uma se juntando à outra, a população passa a ver a sujeira e a visão de que saneamento não traz dividendos políticos já não existe. Apesar do cenário mais favorável ao investimento em saneamento, modernizar o setor no país exigirá tempo e dinheiro. Para se ter uma idéia, se começarmos agora, vamos demorar 20 anos e serão necessários R$ 200 bilhões para levar água e esgoto tratado a 100% dos domicílios. Em coleta e tratamento de esgoto, números internacionais mostram que se gasta cerca de R$ 600 por pessoa para montar a infraestrutura. Para tratar e distribuir água potável, o número gira em torno de R$ 200 per capita.
O gasto de R$ 200 bilhões pode parecer alto, mas o custo-benefício é atraente. Cada R$ 1 investido em saneamento, o poder público poupa R$ 8 em gastos na saúde e em alguns casos, a relação pode ser de R$ 1 para R$ 30.